“Para ser delegado de polícia você tem que ser um tipo de clínico geral e atuar em várias áreas, tem que ser um bom administrador, tem que ser um pouco de estatístico, psicólogo, amigo e no meio disso tudo prender alguém.” Com quase 23 anos atuando como delegado de Polícia Civil no Tocantins, é assim que João Batista Marques define a profissão que escolheu e que é comemorada nacionalmente, no dia 3 de dezembro.
Natural de Minas Gerais, veio para o Tocantins após passar em um concurso para ser oficial especialista da Polícia Militar. “Eu nunca quis ser outra coisa a não ser delegado de polícia. Esse era um desejo que acredito que nasceu comigo, então eu fiz esse concurso da Polícia Militar e já comecei atuando nas delegacias”, lembra o delegado.
Atualmente à frente da Delegacia Especializada de Repressão a Crimes contra Concessionárias de Serviço Público (DRCSP – Palmas) e na iminência dos seus 63 anos de idade, o delegado traz em seu currículo a atuação em mais de 30 delegacias, de norte a sul do Tocantins. Mas, para ele, a Delegacia de Lagoa da Confusão, onde iniciou sua carreira, tem um lugar especial nas memórias.
“Fiquei seis anos em Lagoa da Confusão e tivemos que fazer várias diligências e muitas incursões na Ilha do Bananal, na região dos rios. Às vezes atravessávamos o rio a pé com as armas pro alto para não molhar, mas apesar das dificuldades foi muito gostoso poder participar dessas ações”, destaca.
Recentemente o delegado esteve em uma operação policial no Bico do Papagaio que executou 12 ordens de prisão pelo crime de furto de energia.
Ao todo 154 delegados atuam no Estado do Tocantins, nas mais diversas frentes. Desde o atendimento em regime de plantão que funciona 24h até as delegacias especializadas. A rotina pode mudar de uma delegacia de polícia para outra, mas a maneira de atuar, com celeridade, seriedade e empatia pode ser percebida em todos os delegados.
Desafios
Para Luciano Barbosa de Souza Cruz, que exerce a profissão de delegado no Tocantins desde 2009, a profissão pode ser vista ainda como um sacerdócio, exigindo do profissional muita dedicação para atuar em pesquisa, levantamento de informações, produção de peças jurídicas, cumprimento de mandados de prisão, condução de operações, entre outras tantas atribuições.
Em 13 anos de profissão, o delegado já atuou na regional de Paraíso, passando por todas as delegacias circunscricionais, gerência de Inteligência e Estratégia da Secretaria da Segurança Pública e delegacias especializadas de Combate à Corrupção e de Homicídios.
Atualmente, o delegado conduz os trabalhos da Delegacia Especializada de Polícia Interestadual, Capturas e Desaparecidos (POLINTER – Palmas), e aponta a celeridade para a realização do trabalho de busca dos desaparecidos, como um dos principais desafios atualmente. “Nosso desafio é prestar o melhor serviço possível à sociedade tocantinense, principalmente em relação ao desaparecimento de pessoas, que traz muita aflição para as famílias. Procuramos nos empenhar ao máximo, atuando da maneira mais rápida possível para trazer tranquilidade a quem tem um familiar desaparecido”, ressalta.
O trato com os familiares dessas pessoas, lidar com as emoções de quem sofre, também é um desafio quando se fala das atividades desenvolvidas por um delegado. Porém, aliar atuação profissional e empatia parece ser a chave para a superação desse tipo de situação.
“Nós acabamos nos colocando no lugar da família e usamos de empatia para tentar entender o que eles estão passando. Tentar sempre estar em contato com esses familiares, às vezes presencialmente, quando não possível, dispomos de um número de whatsapp que é um facilitador para esse contato com as famílias, informando sempre que possível sobre o andamento das investigações”, informa.
Seja por vocação ou por opção, um fato que não se pode negar é que a profissão de delegado não é fácil e envolve um compromisso com toda a população. “A pessoa que é vocacionada a exercer o cargo de delegado, ela sempre vai conseguir exercer a profissão de maneira satisfatória, de modo que preste o melhor serviço à sociedade que é o nosso principal objetivo”, finalizou o delegado Luciano Cruz.
Vida pessoal
Morando em Palmas e atuando na 8ª Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher e Vulneráveis (DEAMV – Porto Nacional), não é só o deslocamento de uma cidade para a outra que a delegada Fernanda de Siqueira Correia tem que lidar todos os dias, os cuidados com a família e a filha de três anos também demandam muito da delegada.
“Conciliar a rotina do trabalho com a maternidade é um dos desafios, pois muitas vezes é necessário abrir mão de momentos com a família para atender uma demanda urgente e o contrário também pode acontecer. Momentos em que preciso desacelerar no trabalho para priorizar o cuidado com minha filha, e assim vou tentando chegar a um equilíbrio”, destaca.
Outro desafio que Fernanda Correia e outros delegados enfrentam ao realizar seu trabalho é agir de forma racional e ponderada diante de casos difíceis. “A atividade policial exige muita entrega, e lidar com determinados crimes, sobretudo crimes sexuais e crimes contra crianças e adolescentes, pode causar um certo abalo emocional, pois alguns casos realmente chocam, mas precisamos agir de forma racional e ponderada, fazendo o possível para garantir a máxima proteção das vítimas, mas sem cometer injustiças”, ressalta.
E a boa execução das atividades policiais passam por aperfeiçoamento constante dos delegados, já que a rotina exige conhecimentos diversos, não ficando restrita ao cumprimento de mandados de prisão.
“Para atuar em uma especializada, por exemplo, fazemos atendimento ao público diariamente, conduzimos investigações, fazemos oitivas, juntadas de documentos (laudos, ofícios), dentre outras diligências. Por vezes é necessário requerer alguma medida cautelar, como prisão, pedido de busca e apreensão domiciliar, bem como quebra de sigilo. As redes sociais mostram um recorte da atividade policial que pode ser atrativo para alguns, como grandes operações policiais, mas a maior parte do nosso trabalho é bem burocrática, demanda muito estudo e constante atualização”, frisa.
Apesar do interesse pela carreira policial ter vindo somente após a faculdade, a delegada já sentia como queria ajudar a sociedade: ouvir pessoas que por vezes não se sentiam acolhidas em determinados espaços da sociedade. E hoje, mesmo com a rotina desafiadora, a delegada vê seu trabalho como gratificante.
“Passei a me inspirar em mulheres policiais e entendi que a polícia tem espaço para variados perfis. No curso de formação já tive a convicção de que queria trabalhar no combate à violência doméstica contra mulheres e proteção de crianças e adolescentes. E posso dizer que é gratificante quando percebo que uma vítima se sentiu acolhida, por ser ouvida de forma respeitosa e sem julgamentos, isso me motiva a seguir na missão”, ressalta.
Ao ser perguntada se conseguiria definir a profissão de delegada em uma frase, Fernanda foi enfática: “ser delegada é conciliar assertividade e empatia, é agir respeitando os direitos e garantias fundamentais do outro, seja vítima ou investigado.”
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